Trail Serra do Galiñeiro - Hélder Pinto

O Trail Serra do Galiñeiro prometia ser um belo e descontraído passeio por terras galegas e foi mesmo! Mas não como imaginei! Nos dias anteriores à prova, o trabalho puxou muito por mim e não deu para descansar muito, inclusive na véspera, em que tive de trabalhar até às 03h30. Ainda bem que me lembrei que, na Galiza, apesar do sol nascer à mesma hora que nasce em Portugal, na verdade temos de nos levantar uma hora mais cedo! E assim apenas dormi hora e meia. Estava tudo a encaminhar-se para um empeno dos grandes, ainda por cima sem o apoio da família, que teve de ficar por casa com uma virose... 
 
A viagem correu bem e cheguei com tempo para levantar o dorsal nas calmas e fazer um curto aquecimento. No momento da partida, ouviu-se um discurso em bom português do "histórico" José Moutinho, alertando para a dureza da prova. Muita gente se riu e eu, apesar de ter levado a sério a advertência, não estava preparado para o que viria a seguir. O estudo superficial que fiz da prova nos dias anteriores nem estudo foi. Foi mais um: "OK, vão ser 20km com duas ou três subidinhas mais puxadas e um abastecimento a meio.. Nada de mais, para quem já fez quase 40kms há poucas semanas". E assim, com esta auto-desinformação, lá fui eu a "esgalhar" nos primeiros kms. Até as escaladas fazia a alto ritmo, esperando encontrar um bom abastecimento aos 9.5 kms... A paisagem era deslumbrante, com as baías de Vigo e Baiona ao longe. 



Os trilhos eram do melhor e as escaladas eram uma diversão constante. Estava a correr tudo bem! Mas, sem me aperceber, começava a pagar a fatura dos excessos... Aos 10km, depois do esforço das primeiras subidas ao pico do Galiñeiro, abastecimento de grilo! Afinal, percebi mais tarde, o abastecimento era aos 16kms (eu é que não tinha olhado com atenção para o mapa do percurso). Lá meti rapidamente uma barra e uns frutos secos, mas não eram suficientes para as necessidades. As descidas eram tecnicamente exigentes, o sol batia forte, e o cansaço já despontava. A maior prova disso é que tinha a sensação de já ter feito muitos mais kms do que na realidade tinha percorrido. Depois de um sobe e desce duro, lá cheguei ao sonhado abastecimento. Repus energias e parti determinado para o resto do percurso (achava eu então que só faltavam cerca de 4km). O terreno pesado junto à albufeira de Zamáns retirou-me as poucas energias que me sobravam e entrei em modo "arrastão". 



Os participantes que iam atrás de mim, certamente mais comedidos na parte inicial, começavam a ultrapassar-me sucessivamente. A minha esperança era que o percurso fosse pouco exigente até à meta. Mas não era... Muita lama, muita pedra, uma parede de deitar abaixo, sobe e desce constante, a alimentação novamente a faltar e mais 2kms do que o esperado... E os outros iam passando desesperadamente por mim! Lá cheguei finalmente aos 22kms da meta, cerca de 3h depois, com 1200m D+, feliz por ter completado o desafio e pela diversão que foi a prova, mas frustrado por me ter preparado tão mal! A classificação - 232º em 352 - foi proporcionalmente a mesma da que consegui na minha primeira prova de trail no ano passado, em Alvelos, onde passei exatamente pelas mesmas peripécias. 

Pelos vistos, aprendi pouco em 12 meses. Este Trail do Galiñeiro põe no bolso muitos trails que já fiz em Portugal, mais longos, mas, sei-o agora, bem mais leves! Portanto, como em muitas outras coisas na vida, os trails não se medem aos palmos! De tarde, fui relaxar até à belíssima baía de Baiona, um local de visita obrigatória e onde se come mariscada como em mais lado nenhum! 


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